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 STUDIO SEREIA

 
Música nas Incubadoras:

Tendo passado por um longo período de amadurecimento, desde sua gênese em Portugal, nas incubadoras do Hospital Santo André de Leiria, e seu desdobramento na Espanha, desta vez nas UTIs neonatais do Hospital 12 de Octubre, o projeto chegou em 2015 às incubadoras do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), por meio do 2o Festival Internacional de Teatro para a Primeira Infância. A experiência se repetiu em 2016, na terceira edição do Festival, com reconhecimento das famílias e da comunidade médica e com grande repercussão na mídia.

Este é, portanto, um projeto de inclusão e de acessibilidade. Dá oportunidade para que os bebês – portadores de múltiplas deficiências, isolados por sua condição prematura – acessem, por meio da música, o direito a uma atenção de qualidade durante seu esforço para amadurecer e integrar-se à vida.

A música aplicada nas unidades hospitalares já foi considerada medida complementar nos cuidados médicos por seu alto valor terapêutico. Daí, a importância da musicoterapia como ferramenta para a promoção da saúde.

A música tem efeitos positivos sobre o manejo da dor, pode ajudar a reduzir tanto a sensação de angústia e estresse como uma dor crônica ou pós-operatória. Também melhora o movimento do corpo e coordenação, reduzindo a tensão muscular e favorece o ganho de peso, contribuindo de forma significativa para a sua recuperação. É sabido ainda que a musicoterapia aumenta o sucesso da amamentação e o desenvolvimento comportamental neuro-social. Os benefícios da música, nas incubadoras particularmente, estendem-se à relação do bebê com seus pais, ao promover sensações afetivas que reafirmam o vínculo entre eles.

Pesquisa e metodologia de Fernanda Cabral

Além do seu trabalho de compositora e cantora, Fernanda Cabral desenvolve pesquisas no campo da música. Os efeitos dos fenômenos sonoros e o papel da escuta na construção de uma dramaturgia para bebês foram temas de sua pesquisa de Mestrado. Questão que ela leva para o âmbito das incubadoras, acentuando o valor da escuta (do campo vibratório do bebê prematuro) na construção de uma vibração sonoro-musical que alcance a matéria do recém-nascido. Ou seja, para perceber a demanda de cada bebê, a principal tarefa do músico nas incubadoras é a de desenvolver a atividade da escuta.

Fernanda acredita que quanto mais qualidades sonoras se oferecem a um bebê, maior será sua atenção e recepção, maior será sua escuta. Por isso os seus micro concertos são apoiados no uso da voz e de diferentes instrumentos musicais que fazem referência simbólica aos 4 elementos.

Instrumentos musicais e os 4 elementos

Para acessar sonoramente o elemento AR, por exemplo, utilizam-se as flautas de bambu ou outros instrumentos de sopro. Para ÁGUA, o próprio elemento é manuseado por meio de dois potes e um coador que amplificam o seu efeito sonoro para que a escuta esteja mais próxima possível do som natural da água. Para o elemento TERRA, diferentes tipos de sementes são manipulados em cabaças africanas e outros instrumentos percussivos, como o xequerê ou o caxixi. O FOGO, nesse jogo sonoro dos 4 elementos, é representado simbolicamente pelo som metálico da KALIMBA (instrumento de origem africana).

A cancão

Na presença dos pais e bebês no recinto, a artista improvisa uma melodia apoiada nos fonemas-sonoros dos nomes de cada um dos presentes ali. Esta prática oferece ao paciente adulto um reconhecimento da sua presença e de sua importância no encontro musical e no recinto. A canção também surge das referências musicais da cantora, ou seja, de um repertório pré- existente de sonoridades e melodias, sejam rítmicas como as batidas de côco, ou melódicas, como as emboladas ou canções de ninar tradicionais brasileiras.

Ah, se os bebês falassem!
Angélica Torres

[Jornalista e poeta]

Insólito, amoroso, em forma de oração é o ritual dos ‘micro concertos’ dedicados pela artista Fernanda Cabral à recuperação de prematuros internados na UTI do Hospital Materno Infantil de Brasília. A força terapêutica do projeto de Fernanda está nos suaves acordes de voz e na execução de instrumentos como kalimba, flauta doce e diversos outros de percussão. Ah, se os bebês falassem! Ou se ao longo da vida pudessem recordar o que sentiram com a experiência. Quem assistiu, viu reações de embevecer. Alguns ainda em sono profundo acordavam e se interagiam com a melodia e os ritmos que ouviam. Vários mexiam as perninhas no ar como se dançassem. Outros de olhos vendados moviam a cabecinha, atentos ao inusitado recital. Um deles, logo no início do ritual junto à incubadora, levantou rapidamente os dois bracinhos como se exclamando, “oba, estou pronto pra luta!”. De emocionar às lágrimas.

Concentrada nas reações do primeiro filho, em observação pela cardiopatia detectada mas em quadro estável, Lelís Jardim disse: “Vi que Bernardo gostou, porque ficou quietinho e reagiu especialmente com o barulhinho da água caindo da vasilha na peneira que Fernanda usou entre os instrumentos, porque procurou o meu dedo e o apertava muito! O avô dele é músico e ele também vai crescer músico, eu senti isso”.

O Projeto segue...

“Quero aplicar o projeto com regularidade e poder trabalhar melhor o campo energético do bebê e da mãe, porque é para ajudar na recuperação dos dois”, conta Fernanda, que mais do que musicista ali se transforma num misto de xamã, pajé, mãe de santo e até padre incensando o ambiente. As enfermeiras da maternidade Juliana Dantas e Rafaela Dutra entendem que a prática pode beneficiar não só os prematuros, mas todos os recém-nascidos do hospital.

Fotos e vídeo de André Amaro:

 

Reportagem do DFTV:

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